Como a ACV pode apoiar a Gestão de Resíduos?

A gestão de resíduos sólidos é um grave problema mundial, que está associada a diversos tipos de impactos ambientais. No Brasil foi lançada em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), no qual as indústrias tomam um papel mais ativo na responsabilização do ciclo de vida de seus produtos (veja mais sobre a PNRS aqui). Com relação aos resíduos alimentares, estudos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) demonstram que 1/3 dos produtos alimentícios manufaturados se tornam resíduos, evidenciando a severidade deste aspecto ambiental para o setor.

Supermercados são uma das principais fontes da geração destes resíduos, principalmente devido a ineficiência na gestão dos produtos vendidos nestes locais (por exemplo, diversos produtos atingem o prazo de validade antes de serem vendidos). Outra importante fonte no Brasil é o nosso resíduo domiciliar. Estima-se que até 50% de todo o resíduo sólido urbano seja, na verdade, matéria orgânica (IPEA, 2012).

Enquanto no Brasil aterros sanitários são considerados uma das destinações mais adequadas para os resíduos sólidos (apesar de muitos municípios ainda destinarem seus resíduos à aterros controlados e/ou lixões), na maioria dos países europeus existe a proibição desta técnica por diversas razões, entre elas, a competição por espaço naquele continente e o potencial de aproveitamento da matéria orgânica para outros fins (fazendo com que a gestão de resíduos tenha que ser mais eficiente). A destinação de alimentos para aterros apresenta três aspectos negativos fundamentais: (1) potenciais de recuperação são perdidos (resíduos alimentares possuem um potencial muito elevado de ser convertido em composto orgânico de qualidade ou energia); (2) matéria orgânica quando decomposta em aterro, ocasiona em grandes gerações de lixiviado e de gases do efeito estufa (GEE), causadores do aquecimento global; (3) Ocupação e custos de transportes (coleta e transbordo) e de células de aterro com, no final das contas, água.

Não por acaso, diversas estratégias são estudadas para o gerenciamento da parcela de resíduos alimentares. Mas algumas peguntas sempre permanecem no ar:

Será que esta estratégia representa um ganho ambiental? De quanto? Será que posso melhorar ainda mais?

Estudo de Caso – Supermercado Belga

Uma rede de supermercados na Bélgica destinava seus resíduos alimentares para digestão anaeróbia, processo que, além de promover o correto tratamento dos resíduos, gerava diversos co-produtos, como fertilizantes, materiais recicláveis usados como insumo na indústria cimenteira (embalagens) e biogás para gerar calor e eletricidade (vendido à rede pública). Os resíduos sólidos desta rede de supermercados possuíam características bastante heterogêneas, sendo que existia uma fração mais seca (com menor teor de umidade). Nesta categoria estavam os biscoitos e pães vencidos. Esta parcela dos resíduos e suas características técnicas indicavam a possibilidade de uma destinação alternativa, como insumos para indústria de produção de ração animal. Desta forma, estes resíduos poderiam produzir ração animal evitando assim a utilização de soja e milho para este fim.

Neste contexto, esta rede de supermercados belga estava interessada em avaliar qual destinação seria considerada mais ambientalmente sustentável. Será que a destinação da fração mais seca para produção de ração traria benefícios ambientais? E neste caso, haveria menos resíduos destinado à digestão anaeróbia, consequentemente a produção daqueles co-produtos (p.ex., eletricidade) seria reduzida. Será que o benefício anterior compensaria a menor produção destes co-produtos? Para responder estas perguntas foi feita uma ACV, a fim de identificar qual destinação traria melhor desempenho ambiental (leia o trabalho na íntegra clicando aqui).

Como as diferentes destinações de resíduos geram diferentes co-produtos, optou-se em aplicar uma técnica de ACV chamada de “expansão do sistema”, ou seja, incluir os processos de produção tradicional destes co-produtos no sistema analisado. Portanto, para que esta análise fosse feita de forma mais completa, foi necessário considerar um escopo que fosse além dos limites do supermercado, através da perspectiva do ciclo de vida.

Entenda a comparação de cenários

A ACV foi feita através de dois métodos de avaliação ambiental, sendo que ambos apontaram o mesmo resultado – o cenário 2 é mais sustentável. A implantação do cenário 2 por aquele supermercado poderia reduzir em 15 – 33% os impactos ambientais da situação inicial. A principal razão deste resultado é que a produção tradicional de ração possui um ciclo de vida mais impactante que a produção tradicional dos co-produtos da digestão anaeróbia (eletricidade, calor, fertilizantes e insumos para combustão), e no cenário 2 esta produção seria evitada ao se utilizar a fração seca dos resíduos do supermercado.

A ACV é uma ferramenta de gestão ambiental muito versátil, que possibilita identificar ganhos (ou perdas) ambientais que muitas vezes não são facilmente visíveis. Neste post podemos observar como ela pode ser utilizada no estabelecimento de estratégias para a gestão de resíduos sólidos.

Para maiores informações sobre esta ferramenta e/ou para saber como ela poderá ser usada na sua organização, entre em contato com a equipe da EnCiclo Soluções Sustentáveis.

Até a próxima!