Entenda a relação entre a Declaração Ambiental de Produtos e a Construção Sustentável

O aumento da consciência (e preocupação) sobre a pegada ambiental que deixamos para trás tem mobilizado empresas e indústrias de diversos setores a buscar meios para dar uma resposta para a sociedade a essa crescente cobrança. Como consequência, sistemas de gestão têm sido implementados com vistas a uma produção mais sustentável, refletindo na evolução de como as organizações gerenciam seus aspectos e impactos ambientais. Hoje, as indústrias já percebem que o retorno do investimento necessário para promover a sustentabilidade está na redução de desperdícios e em inovação de processos que acontecem a partir de uma necessidade de reduzir o seu impacto a partir de novas tecnologias ou de simplesmente o maior controle sobre o consumo de utilidades e de matéria-prima por unidades de produto.

De fato, o uso de boas práticas e ferramentas de gestão ambiental, na maioria das vezes está associado a um também melhor desempenho econômico.

Além disso, o ganho associado à redução dos impactos possibilita elevar o valor da marca por meio da externalização das ações. Hoje, o canal de comunicação entre todos os stakeholders se dá pelos rótulos ou selos ambientais, que quando verificados por terceira parte (Rótulos Tipo I e III), evitam o greenwashing.

O setor de construção civil, frequentemente alvo de críticas devido ao impacto associado a geração de resíduos e uso intensivo de maquinários e energia, talvez seja um dos que estejam mais avançados em termos de gestão ambiental. Dada a relevância do tema construção sustentável, a TEM Sustentável, revista eletrônica com foco em tecnologias, empreendimentos e materiais sustentáveis, realizou uma entrevista com um dos diretores da EnCiclo sobre como as Declarações Ambientais de Produto (veja mais sobre DAP nesse post) podem ajudar o setor a reduzir seus impactos e a melhor se comunicar com o consumidor.

Abaixo, apresentaremos alguns pontos discutidos durante a entrevista, com informações adicionais sobre a temática (a matéria na integra pode ser acessada aqui).

 

Relembrando: O que é uma Declaração Ambiental de Produto (DAP/EPD)?
A Declaração Ambiental de Produto (EPD) é um Rótulo Ambiental que define o perfil ambiental de um produto, com base em uma análise ambiental chamada Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Para facilitar o entendimento, sempre gostamos de associar as informações apresentadas por uma EPD com as informações fornecidas por tabelas nutricionais nas embalagens de alimentos. A diferença é que ao invés de valores nutricionais, uma EPD quantifica a pegada ambiental daquele produto sob diferentes indicadores, tais como a mudança climática.

A DAP é um rótulo Tipo III que segue a padronização das normas ISO 14020 e 14025, além das normas ISO 14040 e 14044 sobre avaliação do ciclo de vida (ACV). Para o setor de construção civil ainda existem outras duas normas, a ISO 21930 e a EM 15804, que são normas adicionais que visam orientar o desenvolvimento das Regras de Categoria de Produto (PCR) do setor. No Brasil, atualmente existem dois sistemas de rotulagem Tipo III, o RGMat, específico da construção civil e concedido exclusivamente pela Fundação Vanzolini, e o Programa de Rotulagem Tipo III – DAP do Inmetro. Abaixo listamos duas EPDs concedidas pela Fundação Vanzolini:

Em nível internacional, o programa mais conhecido é o The International EPD® System, que recentemente publicou três EPDs da Votorantim Cimentos e que podem acessados pelos links abaixo:

Para que serve e qual a sua importância para a construção sustentável?
A principal finalidade de uma EPD é facilitar a comunicação por meio de informações transparentes, precisas e confiáveis, dos impactos potenciais de um produto ao longo de seu ciclo de vida. A sua importância para a construção sustentável está no aumento do poder de decisão no momento de desenvolvimento de um novo projeto.

 “Com a DAP, é possível escolher a opção que represente uma maior sustentabilidade. Compreender a influência de um produto do ‘berço ao túmulo’ permite identificar a real opção em termos de redução de impactos. Por exemplo, de que adiantaria escolher um produto que tem pouco impacto em sua produção e garante um uso eficiente, se ao final de sua vida útil seu descarte for extremamente problemático? Essa compreensão da influência de nossas ações (além da ação direta), é chamada de pensamento do ciclo de vida.”
 

Mas como isso funciona na prática? Como explicado anteriormente a EPD traça o perfil ambiental dos materiais e os resume em uma Tabela.

A sustentabilidade de um edifício pode então ser analisada com base na soma dos perfis ambientais dos materiais utilizados com suas respectivas quantidades, como apresentado no gráfico abaixo.

 

Mas, e quais as vantagens de se obter uma EPD?
A EPD exige uma ACV, que por sua vez, irá detalhar todos os processos que compõem a cadeia de valor. O nível de detalhamento da ACV fornece à empresa informações valiosas das etapas nas quais podem ocorrer desperdícios de materiais e/ou ineficiência energética, indicando caminhos para a redução dos custos operacionais, o que pode refletir em um preço de mercado mais competitivo. Adicionalmente, a obtenção de um rótulo ambiental por si só, já gera uma valorização da marca pela externalização da responsabilidade ambiental da empresa, permite a entrada em novos mercados e a participar de editais de compras públicas sustentáveis, encoraja o consumidor a escolher produtos menos impactantes e induz a melhoria contínua do processo.

Além disso, a construção de prédios que utilizem materiais que possuam suas EPDs permite obter pontuações extras no sistema de certificação do Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), dentro da dimensão Materiais e Recursos (Materials and Resources).

 

Como um fabricante de materiais pode obter uma EPD?
Para obter uma EPD, o primeiro passo é definir qual o público-alvo (mercado interno ou externo) para então ser definido o sistema de rotulagem desejado e a Regra de Categoria de Produto (PCR) relevante. O segundo passo é realizar a ACV do produto de acordo com a PCR e redigir o documento no formato da EPD. O pedido é então verificado por uma terceira parte, e atendendo as exigências técnicas e de qualidade, passa-se ao registro e publicação do rótulo, ficando disponível para o público. Abaixo é apresentado um esquema visual do processo de obtenção de uma EPD e os atores envolvidos.

A obtenção de EPDs é uma tendência no meio empresarial para melhorar a comunicação B2B, mas também para auxiliar na gestão dos impactos ambientais na cadeia de valor de cada organização. O reflexo dessa tendência pode ser observado na nova ISO 14001 com a inclusão da perspectiva do ciclo de vida como um dos itens a serem observados pelas organizações. Políticas públicas, tais como a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a de Compras Públicas Sustentáveis e os Planos de Produção e Consumo Sustentável também irão influenciar positivamente o mercado de EPDs.

Abaixo segue um vídeo ilustrativo desenvolvido pelo Institut Bauen und Umwelt:

 

A EnCiclo presta serviços de consultoria em projetos de sustentabilidade com base em metodologias e ferramentas para avaliação do ciclo de vida (ACV) e é uma das empresas listadas pelo The International EPD® System para obtenção de Declarações Ambientais de Produto (EPD) e que realiza a verificação de terceira parte. Além disso, a EnCiclo fornece consultoria para o desenvolvimento de Regras de Categoria de Produto (PCR).

Entre em contato com um de nossos consultores para saber como obter sua EPD.

Até a próxima!